“Todos os dias a população das áreas rurais continua a  ter dificuldades para obter água para beber” : Carmo Montenegro

0

Entrevista: Maya Correia

Imagem: Cedida

O impacto das alterações climáticas é um assunto global. Dados da Organização Internacional para Migrações (OIM) apontam que as mudanças climáticas continuam a ceifar vidas e a deslocar comunidades inteiras.

No Brasil e Indonésia, a situação tem causado várias consequências nos últimos dias. Mas, é da África que vamos falar. Só para ter uma ideia, mais de 234 mil pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas no Burundi, Quênia, Ruanda, Somália, Etiópia e Tanzânia, muito recentemente.

Angola, também tem estado a sentir os efeitos das alterações climáticas. O ambientalista Carmo Montenegro respondeu a quatro questões do ZN sobre o tema. Acompanhe a entrevista com o também professor e especialista em Desastres Naturais.

Face ao que o mundo tem vindo a vivenciar, Angola está, de alguma forma, na linha destes “desastres” naturais?

Angola tem registado há já alguns anos secas severas, mas também de chuvas intensas associadas a problemas cíclicos de inundações que têm afectado cerca de quatro milhões de pessoas, provocando a emigração forçada (fenómeno conhecido como transumância), principalmente dos jovens e homens da região sul de Angola, com o gado em busca de água e bons pastos, para a sobrevivência do rebanho. E assim as mulheres e crianças são deixadas ao abandono pelos seus maridos devido à seca que afecta a região. 

Quais as acções de mitigação que devem ser acauteladas para que não sejamos pegos na contramão e minimizar estes impactos? 

Apesar do Governo angolano ter vindo a desenvolver um programa específico de acções estruturantes que consiste na construção de barragens com reservatórios para acumulação de águas, canais e transvases, o problema ainda não foi solucionado. O sul do País ainda vive uma luta pela água em vários pontos, a quantidade de chuva registada entre Janeiro e Março – tradicionalmente parte da estação de chuva não chegou a 50 mililitros por metro quadrado, o que caracteriza uma seca extrema e está a ser considerado em alguns círculos a pior seca da história. Todos os dias, a população das áreas rurais continua a  ter muitas dificuldades para obter água para beber, cozinhar e dar aos animais.

Quer dizer que estes projectos têm-se revelado insuficientes para resolver os problemas?

Para além do mega projecto que está a ser implementado pelo executivo, sugeria outros projectos que reforçassem a redução da vulnerabilidade e a pobreza da população.

A problemática das enchentes e inundações passou a ser algo comum na vida das populações de algumas cidades principalmente na cidade capital (Luanda). Infelizmente, todos os ano acontece o mesmo entre os meses de Janeiro a Abril, só se fala dos problemas relacionados com a elevação dos cursos de água e a inundação de casas e ruas, desencadeando uma série de tragédias, que, quase sempre, poderiam ser evitadas.

Se tivesse que recomendar algumas acções ao executivo quais seriam?

Para mitigar o problema das inundações, é realizar um plano de prevenção, que pode ocorrer pelas seguintes medidas:

Construção de sistemas eficientes de drenagem; desocupação de áreas de risco; criação de polígonos florestais nas margens das linhas de água; Diminuição dos índices de poluição e geração de lixo; planeamento urbano mais consistente. Por outro lado, envolver actores dentro e fora do governo: estes fenómenos não podem ser tratados apenas pelo governo e não devem ser uma abordagem baseada unicamente em uma resposta sectorial, deve estar integrada em todos os componentes da administração publica e da sociedade.

Deve-se desenvolver políticas para gestão destes fenómenos resultantes da combinação das ameaças naturais e da produção social de vulnerabilidade e do risco com acções de fortalecimento da infraestrutura social e produtiva, visando melhoria da população rural.

About The Author

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *